Sobre a Síndrome de Burnout | Lúcia Simões Sebben

Sobre a Síndrome de Burnout | Lúcia Simões Sebben

O ambiente de trabalho tem sido foco de muitas discussões quando pesquisamos sobre saúde mental. Lidar com a complexidade do momento atual tem sido uma tarefa bastante difícil para algumas pessoas, que sem perceber acabam por se deixar levar pelos excessos sem definir um limite para sua capacidade de suportar tudo isso. Nosso país nos últimos anos vem enfrentando uma crise sem precedentes, e que obviamente afeta a segurança dos empregos e das famílias que dependem deste sustento.

Muitas demissões acarretam em uma sobrecarga de trabalho para aqueles que conseguem se manter empregados. Equipes que eram compostas por 15 ou 20 pessoas precisam agora operar com um time de 5 ou 10 pessoas. Soma-se a isso, o medo de perder o emprego e passar a ser parte de uma fila de 12 ou 13 milhões de desempregados, sem perspectivas de quando conseguirão novamente ter seu trabalho de volta. Frente a isso, o trabalhador brasileiro se submete a pressões, cobranças e exigências que podem estar indo além de sua capacidade de tolerância gerando cansaço e estresse para além do que sua saúde pode suportar. Por outro lado, com medo de perder o emprego muitos permitem que os excessos aconteçam e não se atrevem a reagir contra isso.

Em alguns casos podemos identificar fatores estressores inerente a função, como por exemplo bombeiros, policiais, vigilantes, trabalhadores que atuam em funções com riscos específicos como eletricistas, operadores petroquímicos, motoristas, e não ainda podemos citar profissionais da área da saúde como médicos e enfermeiros, ou pilotos de avião, entre muitos outros que trabalham sob pressão e lidando constantemente com risco de morte. Temos então, fortes candidato a Síndrome de Burnout.

O termo burnout significa burn = queima e out = para fora, ou seja uma metáfora para representar que o indivíduo chegou ao seu limite e já não possui mais condições de suportar as pressões a que se submete. A Síndrome de Burnout é constituída por um quadro tridimensional de: exaustão emocional, despersonalização e incompetência e pode ser bem observada no relacionamento com pessoas já que esta exige uma resposta emocional continua.

O perfil do profissional motivado, comprometido e dedicado por ser um dos principais alvos, visto que este investe mais tempo e energia para desempenhar-se, produzir e obter bons resultados tornando-se assim mais suscetível e vulnerável a construção das condições necessárias a formação de uma situação de esgotamento. O mesmo pode acontecer com o workaholic que não vê limites para sua dedicação ao trabalho muitas vezes fazendo uma carga horária além da prevista e abrindo mão de qualidade de vida para produzir cada vez mais. As causas mais frequentes, segundo estudos do Hospital Albert Einstein de São Paulo, são:

– Os relacionamentos conflitados com colegas, lideres e clientes;
– Falta de cooperação entre colegas no trabalho;
– Desequilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal;
– Falta de autonomia, e por consequência a dependência de terceiros;
– Ausência de qualidade de vida.

Ainda segundo a Revista de Enfermagem, outros fatores estressores que contribuem para a formação da síndrome são:

– Lidar com riscos inerentes a função;
– Diminuição do valor social do individuo por sua família;
– Sobrecarga de trabalho;
– Carência de recursos para desempenhar-se adequadamente;
– Diminuição das recompensas e estímulos de sua atividade;
– Inquietação e ameaça de sofrer criticas por mau desempenho;
– Conflitos por problemas éticos resultantes do avanço tecnológico.

Diante deste contexto podemos observar a formação de sintomas que podem contribuir para o diagnóstico e o imediato tratamento. Com frequência vemos pessoas esgotadas, cansadas e desmotivadas no trabalho, muitas preferem inclusive negar a existência de um quadro mais importante para fugir de terapias e de um tratamento mais complexo. Entre os sintomas mais comuns podemos observar:

– Fadiga e cansaço constante;
– Distúrbios do sono;
– Dores musculares e de cabeça;
– Irritabilidade e alterações do humor;
– Falta de memória;
– Dificuldade de concentração;
– Falta de apetite;
– Depressão e desmotivação;
– Dificuldades de relacionamento.

Há os que preferem não dar importância para os aspectos que vem observando em si mesmo ou no colega, optando por acreditar que apenas umas férias já resolva tudo. No entanto, uma das características diferenciadas da Síndrome de Burnout se refere ao fato que, mesmo depois de um período de descanso em que os sintomas retrocedem ou se minimizam, todo o desconforto se reinstala em poucos dias trazendo de volta o mesmo quadro identificado anteriormente mostrando que um tratamento mais profundo e amplo se faz necessário.

A medida que os sintomas evoluem e avançam sem tratamento, alguns casos podem passar a apresentar um comportamento mais arredio, sobretudo nos relacionamentos do ambiente de trabalho. Em geral, o individuo se mostra irônico, com variações de humor, momentos de isolamento, perda de inciativa e de produtividade. A motivação diminui e sentimentos de incompetência podem ser experimentados com queixas de desempenho trazidas pelo líder imediato. Nestes casos, os problemas de relacionamento se complicam gerando ainda mais conflitos, desgaste e estresse que, como em um ciclo vicioso se aprofunda e agrava ainda mais. Em casos mais severos podemos identificar quadros de alcoolismo, uso de drogas, ideação suicida e adoecimento mais frequente devido à baixa do sistema imunológico.

Realizado o diagnóstico adequado, além da psicoterapia recomenda-se como tratamento investir em melhorias na qualidade d vida, desenvolver hobbies e atividades de lazer, praticar atividades físicas, dar maior atenção a saúde física, controlar a quantidade de trabalho realizado respeitando a carga horaria prevista, sem cometer excessos desnecessários, melhorar a qualidade do sono e se alimentar melhor.

Fonte:
Revista Eletrônica de Enfermagem
Hospital Israelita Albert Einstein

Lúcia Sebben

Desenvolvimento Humano e Organizacional Consultoria em RH

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