Homeostasia ou  Homeostase | Lúcia Simões Sebben

Homeostasia ou  Homeostase | Lúcia Simões Sebben

É a propriedade de um sistema aberto, seres vivos especialmente, de regular o seu ambiente interno para manter uma condição estável, mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico controlados por mecanismos de regulação inter-relacionados. O termo foi criado em 1932 por Walter Bradford Cannon a partir do grego homeo similar ou igual, stasis estático.

O uso mais frequente do termo refere-se à homeostase biológica. A sobrevivência de organismos vivos requer um meio interno homeostático; muitos ambientalistas acreditam que este princípio também se aplica ao meio externo. Um grande número de sistemas ecológicos, biológicos e sociais são homeostáticos, mantêm o equilíbrio contrariando qualquer mudança, e caso não sejam bem sucedidos em repor o equilíbrio, isso pode conduzir à interrupção do funcionamento do sistema.

Sistemas complexos, como por exemplo o corpo humano, precisam de homeostase para manter a estabilidade e sobreviver. Mais do que apenas sobreviver, estes sistemas devem ter a capacidade de se adaptar ao seu ambiente externo e interno.

Propriedades da homeostase

Os sistemas homeostáticos exibem certas propriedades:

  • São extremamente estáveis;
  • Toda a sua organização, interna, estrutural e funcional, contribui para a manutenção do equilíbrio.
  • São imprevisíveis (o resultado de uma determinada ação pode mesmo ser o oposto do esperado).

Seguem-se alguns dos mais importantes exemplos de homeostase em mamíferos:

  • A regulação da quantidade de água e minerais no corpo, conhecida como osmorregulação. Tem lugar principalmente nos rins.
  • A remoção de resíduos metabólicos, conhecida como excreção. Tem lugar em órgãos excretórios como os rins e os pulmões.
  • A regulação da temperatura corporal, realizada principalmente pela pele e pela circulação sanguínea.
  • A regulação dos níveis de glicose no sangue, realizada principalmente pelo fígado e pela insulina segregada pelo pâncreas. Estado de equilíbrio no corpo.

Mecanismos de homeostase: feedback

Quando ocorre a mudança de uma variável, o sistema pode reagir segundo dois tipos de feedback:

  • O feedback negativo é a reação pela qual o sistema responde de modo a reverter a direção da mudança. Dando a entender a manter estáveis as variáveis, permite a manutenção da homeostase. Por exemplo, quando a concentração corporal de dióxido de carbono aumenta, os pulmões são estimulados a aumentar a sua atividade e expelir mais dióxido de carbono. A termorregulação é outro exemplo de feedback negativo. Quando a temperatura corporal sobe, ou desce, receptores na pele e no hipotálamo sentem a alteração, desencadeia uma ordem no cérebro que dá início a uma reação no sentido de gerar ou libertar calor, conforme seja o caso.
  • No feedback negativo, o órgão X estimula o órgão Y, cuja função inibe ou paralisa a atividade do órgão X. Em outras palavras, o estímulo bloqueia o seu próprio “estimulador”.
  • No feedback positivo, a resposta amplifica a mudança da variável. Isto tem um efeito desestabilizador, pelo que não contribui para a homeostase. O feedback positivo é menos comum nos sistemas naturais do que o feedback negativo, mas tem as suas aplicações. Por exemplo, nos nervos, um potencial elétrico limite desencadeia a geração de um potencial de ação muito mais elevado. (Ver também ponto de equilíbrio.) Outros eventos de feedback positivo são a coagulação do sangue e vários eventos na gestação.
  • O feedback positivo é quando um órgão y estimula um órgão x, e este, através de produtos da sua atividade, retroestimula o órgão y, intensificando sua ação. Um mecanismo destes, isoladamente, levaria à exaustão ou esgotamento energético do sistema. Por isso o feedback positivo está sempre acoplado a feedback negativo.

Homeostase ecológica

Na sua hipótese de Gaia, James Lovelock afirma que toda a massa de matéria viva da Terra, ou de qualquer outro planeta com vida, funciona como um vasto organismo que activamente modifica o seu planeta para produzir o ambiente que melhor serve as suas necessidades. Sob este ponto de vista, o planeta inteiro mantém homeostase. Se um sistema deste tipo ocorre ou não na Terra é ainda assunto de debate. Contudo, alguns mecanismos homeostáticos relativamente simples são aceitos na generalidade. Por exemplo, quando os níveis atmosféricos de dióxido de carbono sobem, as plantas crescem mais e removem dióxido de carbono da atmosfera. Quando a luz solar é intensa e a temperatura atmosférica sobe, o fitoplâncton da superfície oceânica prolifera e produz mais dimetilo de enxofre, que age como núcleo de condensação de nuvens conduzindo à produção de mais nuvens, ao aumento do albedo do planeta e à redução da temperatura atmosférica.

Outras áreas

O termo começa a ser usado noutras áreas alem das ciências biológicas.

As companhias de seguros podem falar de homeostase de risco, quando, por exemplo, condutores com ABS apresentam uma sinistralidade semelhante aos condutores sem ABS, porque inconscientemente compensam o veículo mais seguro com hábitos de condução menos seguros.

Sociólogos e psicólogos referem a homeostase de stress, a tendência duma população ou dum indivíduo para manter um certo nível de stress, frequentemente criando stress artificial se o nível “natural” de stress não for suficiente.

Em Qualidade podemos dizer que homeostase, uma das propriedades fundamentais dos sistemas, é a propriedade que os sistemas apresentam de auto-regularem o seu nível de desempenho em torno de um ponto ótimo, quando livre de interferências externas. Sua utilidade para o gerenciamento dos processos industriais consiste no tratamento das manifestações mensuráveis da homeostase baseado na teoria da variação, formulada por Shewhart.

Homeostase de Risco

A homeostase de risco é uma hipótese sobre risco, desenvolvida por Gerald JS Wilde, professor emérito de Psicologia na Universidade de Queen, Kingston, Ontário, Canadá. Esta hipótese sustenta que todo mundo tem o seu próprio nível fixo de risco aceitável. Quando este nível de risco varia, haverá um correspondente aumento ou redução do risco em outros lugares para fazer com que o risco volte ao equilíbrio. Wilde argumenta que isto é válido mesmo para os modelos sociais em grande escala, que devido a sua complexidade, pode ter consequências inesperadas por causa de uma pequena mudança introduzida em seu meio.

Por exemplo, imaginemos que queremos reduzir o número de acidentes de trânsito. Se alguém sugere programar nos carros o sistema de freios ABS, provavelmente pensaremos que é uma boa ideia para evitar acidentes. Mas um experimento demonstrou que acontece justamente o contrário.

Foi o chamado Experimento do taxista de Munique, realizado no final de 1980. A metade da frota de uma companhia de táxis de Munique foi equipada com o novo sistema de freios ABS, a outra metade não. Os pesquisadores descobriram que a maioria dos táxis envolvidos em acidentes eram justamente os carros equipados com ABS.

Para verificar o que ocorria, instalaram um tipo de caixa preta nos táxis que registrava toda a informação da condução. Os taxistas também podiam ter a companhia de observadores que tomavam nota de sua conduta; mas os taxistas não sabiam quem era observador e quem não o era, e os observadores não sabiam também se o táxi tinha ABS ou não.

Todos os dados sugeriam o mesmo: os motoristas mudaram rapidamente sua forma de conduzir pela presença do ABS e essa mudança acabava por completo com os benefícios proporcionados pelo novo sistema de freios. Uma vez que descobriram que a distância efetiva de freada era mais curta, começaram a conduzir colados no carro da frente, fazer mudanças de pistas mais bruscas, a conduzir mais rápido e, em geral, a ser menos cuidadosos. O novo “equipamento de segurança”, longe de tornar os carros mais seguros, em realidade fez com que se tornassem mais perigosos, simplesmente porque sua presença mudava o comportamento dos motoristas ao volante.

Em um sistema tão complexo como a sociedade em seu conjunto, a relação causa efeito se diluem, de modo que é difícil averiguar que medidas são as apropriadas para atalhar um problema ou se realmente o problema foi atalhado por essas medidas ou por outras das quais não somos conscientes. No mundo do trânsito ocorrem continuamente estas coisas.

Por exemplo, imaginem que queremos solucionar o problema de engarrafamentos nas avenidas de acesso a uma grande cidade. A lógica impõe que só há que construir mais estradas e voilá: problema solucionado. No entanto, sempre que constroem (ou alargam) novas vias, o trânsito cresce em pouco tempo (as pessoas, ao descobrirem que está mais fácil circular, simplesmente começam a usar mais o carro).

No mesmo sentido, parece que o apoio ao transporte público seja a panaceia aos engarrafamentos das vias pública. No entanto, não é exatamente assim. Mais transporte público eficiente e barato, menor número de carros nas ruas… Mas em pouco as pessoas percebem que tendo menos carros nas ruas, aumenta a comodidade à hora de circular, atravessa-se a cidade mais rápido gastando menos combustível e finalmente ir de carro é sempre melhor que ir de transporte público. Assim logo as vias voltam ao estado de engarrafamento anterior ou inclusive pior.

Algo parecido pode ser dito em relação aos países que conduzem pela esquerda. Pensamos que se obrigarmos esses países a conduzir pela direita provocará toda classe de acidentes até que se acostumem. No entanto, o efeito é justamente o contrário: reduz-se consideravelmente o número de acidentes porque as pessoas passam a dirigir com mais medo e precaução (até que se acostumam à nova forma de condução).

Referências

  1. ↑ Sperelakis, Nicholas (editor); Freedman, Jeffrey C. (autor do capítulo); Ferguson, Donald G. (autor do capítulo). Cell Physiology Sourcebook: A Molecular Approach (em inglês). 3ª ed. San Diego, California: Academic Press. Capítulo: 1:Biophysical Chemistry of Physiological Solutions, 1235 p. p. 3
  2. Leia mais, clique aqui!
Lúcia Sebben

Desenvolvimento Humano e Organizacional Consultoria em RH

Os comentários estão fechados.
Traduzir
WhatsApp chat