Risco Psicossocial e suas Interferências no Trabalho | Lúcia Simões Sebben

Risco Psicossocial e suas Interferências no Trabalho | Lúcia Simões Sebben

Por muito tempo acreditou-se que os riscos existentes no trabalho eram oriundos de máquinas, equipamentos, produtos, do ambiente ou ainda por negligência às normas de segurança, o que então era chamado de “falha humana”. Para serem melhor compreendidos, os riscos eram classificados como físico, químico, mecânico, biológico ou ergonômico. Entre os ergonômicos observamos tudo o que contempla o limite físico, cognitivo e psicológico do indivíduo. Pois bem, este limite psicológico passou a ser discutido com maior atenção desde a criança da NR 33 em 2006 quando a avaliação psicossocial passou a ser exigida na contratação e periodicamente, para todos que trabalham em espaço confinado. Diante disso, surge a necessidade de compreender o que é RISCO PSICOSSOCIAL para posteriormente entender do que trata uma avaliação psicossocial. Então vamos lá. O termo psicossocial refere-se a tudo que influencia o funcionamento psicológico do indivíduo, ou seja, família, amigos, trabalho repercutindo em seu comportamento. Vamos considerar o princípio básico da ação e reação que compreende que nosso comportamento é produto de tudo que vivemos, sentimos, pensamos e desejamos e por isso, este resultado poderá ser favorável ou não as pessoas que expõem a funções perigosas. Então, o risco psicossocial compreende tudo o que influencia a saúde mental do indivíduo partindo das tensões de sua vida diária e de tudo que é vivido pelo indivíduo como algo adverso. Pode ser experimentado do ambiente familiar (fig. 1) ou do trabalho (Fig. 2), e sendo causador de estresse, diminuição da qualidade de vida, redução da motivação e da capacidade produtiva.

Assim, considerando esta dinâmica, cabe a pergunta: Como é possível um indivíduo desempenhar-se deixando de lado suas preocupações pessoais e angustias familiares? Como o indivíduo que termina um dia de trabalho exaustivo, com emergências de segurança, cobranças e pressões por produtividades ou ainda com um clima tenso e sem cooperação entre colegas e líderes, pode chegar bem em casa para conviver com sua família?

A verdade sobre isso é que podemos controlar e até mesmo em certa medida disfarçar nosso sentimentos e pensamentos através do comportamento fazendo o ajuste possível para cada situação. Mas não podemos mudar nossos sentimentos e emoções mais primitivas e profundas. Para exemplificar isso, podemos citar os medos mais básicos presentes na mente de todo indivíduo em momentos específicos: medo do desemprego, de passar fome, de fazer dividas, de perder a família, os amigos, medo de ficar doente, medo de morrer, ou ainda de sofrer alguma violência ou acidente. Essa emoção não pode ser evitada. E muito menos negada. Devemos reconhecer, aceitar e respeitar sua presença, e dar a devida atenção ao tanto que isso pode colocar o indivíduo em uma situação vulnerável diante do ambiente de risco que se faz presente no trabalho. Compreender a aceitar a influência do risco psicossocial no trabalho implica em rever conceitos e quebrar paradigmas. Não é mais possível aceitar a ideia de que as pessoas devam deixar seus problemas em casa para irem trabalhar tranquilas e felizes e dar o melhor de si produzindo ao máximo. Essa crença impede a gestão do risco psicossocial na medida em que nega o seu impacto no comportamento laboral de qualquer profissional. Acredito que venha daí a explicação para muitos acidentes e emergências que, com frequência, são explicados como “falhas operacionais” ou “erro de procedimento” minimizando e simplificando sua solução através de novos treinamentos técnicos e de reciclagem. Em alguns casos, vejo até mesmo um certo cunho pejorativo sobre o acidentado que passa a ser visto como negligente diante de sua segurança. E neste aspecto vou além e arrisco uma reflexão: seria mais fácil para as organizações tratarem das causas dos acidentes ignorando algo tão imaterial e difícil de ser gestionado, optando por simplificar em respostas materiais e de mais fácil alcance? Assim como menos comprometedor por não precisar ater-se aos aspectos pessoais de cada um? A busca por estas respostas veio da questão: Por que uma pessoa com grande experiência e acidente, que jamais se acidentou e ministra treinamentos de segurança, em um dado momento se acidenta fatalmente? Certamente a resposta não é falta de preparo e qualificação. E a resposta certa vai além de aspectos operacionais e técnicos. Se quisermos encontrar a origem de acidentes e emergências devemos aceitar, respeitar e compreender como cada indivíduo reage ao risco psicossocial para tratar de sua realidade de modo a ajustá-la a organização e vice-versa.

Lúcia Sebben

Desenvolvimento Humano e Organizacional Consultoria em RH

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