Como a educação socioemocional forma líderes conscientes para a gestão dos riscos psicossociais no trabalho
Quando falamos em implantar um modelo de gestão nas organizações orientado para a gestão dos fatores de riscos psicossociais, de forma que mitigue o sofrimento psíquico no trabalho, promova saúde mental e que previna acidentes de trabalho, estamos na verdade começando a navegar em águas desconhecidas.
A recente atualização da NR1 trouxe a toma muitas inquietações e a busca acelerada por meios de implantar os ajustes necessários. Muitas dúvidas foram suscitadas, mas nem todas levarão a resposta certa. Digo isso pela dificuldade de alguns em perceber o que realmente significa isso tudo. Para alguns, trata-se basicamente em ajustar seus relatórios e planejamento de forma a incluir informações sobre gestão de riscos psicossociais, tratando o tema de forma pragmática e burocrática. Para outros, se resume a busca de ações de marketing que promovam uma imagem do tipo “somos bonzinhos”, porém sem nenhuma alteração cultural ou revisão de seus valores e dogmas.
Sem uma sincera e profunda reflexão sobre a cultura organizacional e o modelo de gestão vigente, não haverá gestão dos riscos psicossociais, e tudo se resumirá em um grande teatro apenas na tentativa ilusória de estar cumprindo uma legislação para evitar sanções. Isso não funciona!
Passamos a compreender a gestão das pessoas sob uma perspectiva até então não observada, mas que pode soar obvia e romântica – a educação socioemocional.
O conceito de educação socioemocional fala sobre o processo de desenvolvimento de competências sociais e emocionais fundamentais para o bem-estar pessoal e sucesso na vida pessoal e profissional, como por exemplo, engajamento social, resiliência e empatia. No entanto, exigindo que cada líder observe os impactos de seu comportamento e de suas decisões sob os demais, ou seja, atentando para a responsabilidade frente aos seus liderados.
Um dos principais autores e defensores da educação socioemocional é Maurice J. Elias, professor de Psicologia da Universidade Rutgers e vicepresidente do Conselho de Administração do Collaborative for Academic, social, and Emotional Learning (CASEL). Elias argumenta que a educação socioemocional promove ambientes de aprendizado mais saudáveis e produtivos.
A educação socioemocional envolve o desenvolvimento de habilidades essenciais que contribuem para estabelecer relacionamentos saudáveis, tomar decisões responsáveis e enfrentar desafios de maneira positiva.
Essas habilidades incluem:
- Autoconsciência: Compreender e reconhecer as próprias emoções e seus impactos nos relacionamentos.
- Autogestão: implica no cultivando da resiliência, a regulação emocional controle de impulsos e o estabelecimento de metas.
- Consciência social: Ter empatia, entender e respeitar as diferenças culturais e sociais, além de demonstrar interesse genuíno pelos outros, percebendo os efeitos de sua influência nos ambientes que cria em seu entorno
- Habilidades de relacionamento: Saber comunicar-se bem, trabalhar em equipe, resolver conflitos e construir vínculos saudáveis, sobretudo, com pessoas que desafiem seus limites. Aqui, fala-se também em adaptabilidade e flexibilidade frente as diferenças individuais.
- Tomada de decisões responsáveis: Analisar consequências das ações e fazer escolhas éticas e seguras.
Dar atenção aos fatores humanos, como costuma ser chamado, ou aos fatores de riscos psicossociais no trabalho implica em expandir a consciência sobre chegamos até este momento, onde os números de suicídio laboral crescem assustadoramente. Em 2024, a ansiedade se consolidou como a terceira maior causa de afastamento no Brasil, respondendo por cerca de 51% dos casos de afastamento por saúde mental, enquanto o Brasil segue sendo o país com maior número de casos diagnosticados como transtornos de ansiedade representando 9,3% da população, e os episódios depressivos também seguem aumentando.
Líderes conscientes desempenham sum papel importante nesse processo, integrando valores, pessoas e organização em suas decisões de forma atenta às demandas de todas as partes. Assim, pessoas saudáveis e empresas lucrativas não devem ser vividos como algo confrontativo, mas resultado de uma liderança consciente da influência que exerce sobre seus times, ajudando a prepará-los para os desafios do dia a dia com responsabilidade.
Esta consciência capacita para a percepção dos impactos que sua influência exerce sobre a saúde e a segurança de seu time. O líder consciente educa seus liderados através do exemplo e da inspiração que provoca pela prática de valores fundamentais que se manifesta através de sua competência socioemocional. O líder consciente dos limites humanos, conduzirá seu liderado a observar e respeitar seus limites, permitindo que sua saúde mental seja preservada. Já o líder que privilegia a produção e não observa limites, conduzirá seu liderado a ir além de seus limites, deteriorando sua saúde mental e se remetendo em direção ao acidente.
Portanto, a educação socioemocional é desenvolvida através da conexão entre a liderança e seu time promovendo um espaço de trabalho mais saudável, produtivo e colaborativo. Neste ambiente criam-se um ambiente de trabalho ético, seguro e inclusivo incentivando uma cultura de transparência e confiança. Neste modelo, as pessoas passam a se sentir seguras em expressar seus pensamentos e sentimentos, pedir ajudar, reconhecer seu limite e ao mesmo tempo, saber que será compreendida, aceita e apoiada em suas necessidades. O verdadeiro sentido de time!
Diante disso, podemos perceber a segurança psicológica se estabelecer criando espaços de expressão, com sentimentos de pertencimento e validação da condição humana do trabalhador, sem a necessidade de manter o estigma dos vieses de confirmação impostos pelo mundo do trabalho até então. Nesta perspectiva, passamos a compreender o ser humano vem sua singularidade, por de trás de cada profissional trazendo uma nova dimensão à gestão das pessoas.
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