Conversas difíceis são parte do caminho para a gestão dos riscos psicossociais no trabalho
A atitude de um gestor focado em prevenção dos riscos psicossociais requer um alinhamento de suas competências socioemocionais com as demandas emocionais e limites humanos de seu time. Isso significa estar atento as mudanças de comportamento, ao sofrimento e aos limites de cada um. Representa também falar sobre os desconfortos e as condições de saúde mental de cada indivíduo.
No entanto, isso não costuma ser uma prática comum e fácil no ambiente laboral, embora urgente e necessária. Ainda é presente o paradigma de que não se fala de sentimentos e emoções no trabalho, e que todos devem estar disponíveis às pressões e cobranças da empresa para buscar o máximo de produtividade para alcançar a alta performance que dará asas a carreira corporativa.
Conversar sobre estes temas pode ser desafiador para ambas as partes – líder e liderado. Temas como problemas pessoais, feedback sobre falta de atenção, descuido e negligência, ou ainda sobre comportamentos inadequados podem parecer delicado e gerar relutância na hora de chamar para conversar.
Vale lembrar que realizar a gestão dos riscos psicossociais representa trabalhar de forma proativa diante da saúde mental, o que equivale a enfrentar tabus e dogmas que até então forma mantidos calados sob a crença de que estes temas não devem ser abordados no trabalho, e que pertence a vida privada de cada um.
Porém, com o advento de leis e cerificações apontando para a responsabilização da empresa diante da saúde mental e da segurança do trabalhador, não resta alternativa a não ser aprender a lidar com isso da melhor forma possível.
E os desafios não são poucos. Conduzir conversas difíceis no trabalho pode ser um deles, mas com algumas estratégias, é possível torná-las mais eficazes e menos estressantes.
A comunicação é a primeira ferramenta a ser lapidada, agregando sensibilidade e empatia como característica da condução de um líder capaz de conduzir esta situação, segundo esclarece Chris Stricklin (2019). Neste sentido, cabe a lembrança da Dra Amy Edmondson (2019) que aponta a segurança psicológica como o caminho para a proteção da saúde mental do trabalhador. Ainda de acordo com seu estudo em Harvard sobre equipes eficientes, a pesquisador aponta a troca de feedbacks como uma prática eficiente para construir confiança entre as pessoas.
Considero essenciais o autoconhecimento e a autogestão para que o condutor perceba suas aflições e inseguranças ao conduzir conversas delicadas. É necessário que seja capaz de refletir sobre seus objetivos com esta conversa, sobre os possíveis entraves que possam existir durante a condução e as estratégias mais adequadas para o manejo e condução de si mesmo e do outro.
Aqui estão algumas dicas que podem contribuir:
- Preparação e Planejamento: Antes de iniciar a conversa, reserve um tempo para refletir, organize seus pensamentos e antecipe possíveis reações e inclusive, seus medos e inseguranças.
- Escolha do Ambiente e Momento: Procure um ambiente adequado, privado e livre de distrações e interrupções. Escolha um momento em que ambas as partes estejam disponíveis e receptivas.
- Crie um clima leve e natural: Evite tensões, seriedade em excesso e procure estabelecer uma atmosfera amistosa.
- Comunicação Clara e Direta: Comunique-se de forma clara, direta e respeitosa. Utilize uma linguagem objetiva e evite rodeios, porém não esqueça da leveza e de uma atitude positiva e receptiva.
- Escuta Ativa e Empatia: Preste atenção genuína ao que a outra pessoa está dizendo. Demonstre empatia e procure entender a perspectiva dela. Entenda que não existe apenas a sua verdade. E certifique-se de ter compreendido o que foi dito, e que o outro também o compreendeu.
- Gerenciamento das Emoções: Mantenha a calma e evite reações impulsivas. Utilize técnicas de relaxamento, se necessário. Controle seu pensamento para poder regular suas emoções.
- Feedback Construtivo: Seja específico e construtivo ao oferecer feedback. Concentre-se em comportamentos observáveis e ofereça sugestões concretas para melhoria. Do mesmo modo, peça feedback e mostre-se aberto.
- Foco na Solução: Conclua a conversa para a busca de soluções, incentivando a colaboração e explorando alternativas que atendam aos interesses de ambas as partes – o que o outro se dispõe a fazer e como você pode ajudar. Permita que o outro conclua sua fala e sinta que se manteve a harmonia e um bom entendimento entre ambos.
Essas estratégias podem ajudar a transformar conversas difíceis em oportunidades de crescimento e desenvolvimento no ambiente de trabalho com segurança psicológica e protegendo a saúde mental todos.
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