RISCOS PSICOSSOCIAIS: conceito, consequências e prevenção
Desde que vivemos os desgastantes e inusitados cenários da pandemia do Covid-19 em 2020, percebemos o quanto é essencial e urgente cuidar de forma preventiva de nossa saúde mental.
Vivemos tempos de mudanças aceleradas, e nossa realidade conhecida e confortável parece estar nos desafiando a todo instante, nos exigindo adaptação, resiliência e condições psicológicas de enfrentamento de novos desafios.
No ambiente laboral isso ganha ainda mais agravamento, visto que as pressões são geradas e multiplicadas chegando ao trabalhador em efeito cascata. E aqui cabe lembrar que, tais pressões são muitas vezes aceitas passivamente e entendidas como parte da cena cotidiana, normal e o preço a ser pago por quem busca sucesso profissional e a garantia do seu emprego.
E neste ritmo de normalização dos abusos enfrentados, algumas leis e normas foram sendo criadas visando a proteção da saúde mental do trabalhador. A exemplo disso, temos na reforma trabalhista (2017), o chamado “direito à desconexão” que aponta para a necessidade de descanso e de não ser incomodado fora do horário de expediente. E ainda, em tempos mais atuais, temos a NR-1 atualizada em agosto de 2024 que introduz a identificação dos riscos psicossociais no trabalho e a NR 17 (2022) que estabelece diretrizes para a criação de ambientes de trabalho mais sadios tanto do ponto de vista físico quanto psicológico.
Neste caminho podemos perceber que alguns riscos psicossociais estão sendo identificados e sua compreensão vem sendo esclarecida, trazendo à luz uma outra visão de seus impactos e impulsionando ações de prevenção. Um exemplo disso é o assédio moral e sexual que passou a ser integrado a CIPA exigindo ações preventivas através de um canal de denúncia. Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho) pesquisa realizada em 121 países revela que 23% das pessoas entrevistadas já sofreram de assédio sexual no trabalho. Já no Brasil, pesquisa da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) indica que 42% dos trabalhadores relatam já ter sido assediados. Os comportamentos que caracterizam o assédio são: humilhação, insultos, isolamento social, sobrecarga proposital, constrangimentos e intimidação. Dados do TST (Tribunal Superior do Trabalho) mostram que estes indicadores são crescentes e ainda não são devidamente abordados pelas empresas necessitando de diretrizes e cuidados específicos.
Cabe esclarecer que, por risco psicossocial compreende-se todas as pressões oriundas da vida diária e que sobrecarregam a dimensão psicológica do indivíduo prejudicando sua saúde mental. Sendo assim, podem estar presente no trabalho na forma de sobrecarga de tarefas, excesso de cobranças e pressões, lideranças tóxicas, exigências pesadas, horas extras, desequilíbrio entre trabalho e família entre outros. No ambiente familiar, estes riscos podem se apresentar de outras formas como conflitos, violência doméstica, endividamento ou desemprego. Mas existem riscos psicossociais provenientes do ambiente externo como a polarização política, assédio eleitoral, consumo excessivo de redes sociais, criminalidade, guerras, crises econômicas que também pode gerar impactos na saúde mental.
As leis e as NRs abordam especificamente os riscos psicossociais gerados no trabalho visto que sua prevenção deve ser planejada pela organização já que este ambiente é criado e desenvolvido dentro de uma cultura que pode ser controlada.
É importante ressaltar que ansiedade, insegurança, medo e estresse não representam riscos psicossociais, mas sim as consequências psicológicas dos riscos psicossociais, assim como a Síndrome de Burnout que trata de uma síndrome de esgotamento causada no ambiente laboral por uma má administração do tempo (OMS,2022).
Mas as consequências desta gestão falha das pessoas nas organizações vai além dos danos à saúde do trabalhador, mas retorna para si mesma, gerando aumento significativo dos afastamentos, dos acidentes de trabalho, do retrabalho, improdutividade, prejuízos ao clima, aumento de rotatividade e do absenteísmo.
A prevenção passa por ações de revisão dos valores que de fato são praticados pela empresa, assim como das políticas de gestão de pessoas, dos modelos de gestão e do padrão das lideranças. Passa também por promover um ambiente e ritmo de trabalho adequado, estímulo de uma vida equilibrada e de hábitos de autocuidado, uma melhor organização e distribuição de tarefas, oferecer suporte psicológico, assim como uma vida mais saudável do ponto de vida físico e emocional.
As empresas que já despertaram para a urgência da sustentabilidade humana, já percebem em seu horizonte ganhos e lucros que se refletem não apenas nos custos que reduzem, mas no quanto se tornam atrativas aos talentos disponíveis no mercado de trabalho criando uma reputação que favorece sua competitividade e fortalece sua cultura, mas ainda expande seu crescimento.
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