Por que aprendemos a deixar de gostar de nos mesmo? E como podemos voltar a aprender? | Lúcia Simões Sebben com a colaboração de Fabiane Almeida e Juliane Machado

Por que aprendemos a deixar de gostar de nos mesmo? E como podemos voltar a aprender? | Lúcia Simões Sebben com a colaboração de Fabiane Almeida e Juliane Machado

NR 33 – Espaço confinado e a Avaliação Psicossocial Tendo em vista a segurança dos profissionais que trabalham em ambientes confinados, o Ministério do Trabalho, através da NR-33 passa a exigir de todas as empresas, a Avaliação Psicossocial para os que estão sendo contratados ou para aqueles que já trabalham em espaço ou ainda, que serão treinados para esta atividade. Esta norma está em vigor desde dezembro de 2006, portaria SIT nº 202.22.

Espaço confinado, de acordo com a NR-33, “é qualquer área ou ambiente não projetado para ocupação humana contínua, que possua meios limitados de entrada e saída, cuja ventilação existente é insuficiente para remover contaminantes ou onde possa existir a deficiência ou enriquecimento de oxigênio”. Significa enclausurado, restrito, limitado, apertado, sufocante, demarcado, portanto, inadequado para a ocupação humana.

Esta avaliação deve ser feita por psicólogos nos processos de seleção e também periodicamente, visando investigar as reais condições psicológicas do individuo para trabalhar em segurança em locais confinados, sem por em risco a si mesmo e aos colegas.

A avaliação psicossocial contempla a avaliação de aspectos clínicos e laborais, que compõem o perfil psicológico do indivíduo em espaço confinado. Entende-se que seja fundamental a pessoa estar em condições psicológicas que permitam seu desempenho em um ambiente desfavorável, sem o risco de perda do autocontrole diante de situações inusitadas e/ou de risco.

Cabe ainda, salientar que, mesmo a pessoa sendo contratada com condições adequadas de saúde física e mental, ao longo do tempo, poderá estar desenvolvendo desordens como, por exemplo, a síndrome do pânico, depressão, transtornos de ansiedade, entre outras, o que reforça a necessidade de reavaliações periódicas. Dentro disso, surge outra discussão a cerca da complexidade da função do gestor que passa a ter que recorrer a meios para identificar problemas como este, visando uma solução em tempo hábil para prevenir problemas ainda maiores. Surge daí os psicólogos em conjunto com as áreas de segurança e de recursos humanos buscando métodos e instrumentos que respondam a estas questões com fidedignidade e visão de médio prazo, permitindo assim, uma ação proativa na preservação da vida e da saúde mental no trabalho.

O que fica evidente é a crescente preocupação com a segurança das pessoas que de fato trabalham em ambientes hostis e que podem estar desencadeando doenças não só de ordem fisiológica, mas, sobretudo psicológica, e que não podem ser diagnosticadas por seus gestores por falta de conhecimento do assunto.

Recentemente soube-se da implantação da NR 35, que busca regulamentar os trabalhos em altura. Tem como objetivo garantir as condições de segurança necessárias a este tipo de função. Por trabalho em altura entende-se mais de 2 metros acima do nível inferior onde possa haver queda. Esta norma entra em vigor em 27/09/2012.

Algumas experiências têm me trazido boas e más surpresas no que se refere aos cuidados com a vida nas organizações. Vejo empresas que tem nas normas de segurança um meio de evitar acidentes para não ter custos ou “incomodações” com as autuações das DRTs. Outras, trazem na segurança um de seus principais valores, vendo a vida de seus colaboradores ser de sua responsabilidade, tratando-a com respeito e dignidade. Mas se aprofundarmos esta discussão chegaremos a um dos grandes dilemas da humanidade atual – SUSTENTABILIDADE.

Organizações que trazem em suas práticas o cuidado com a natureza, com o lixo despejado, com a energia consumida, com a água poluída e com os gases emitidos na atmosfera, são capazes de ter o valor da vida humana como parte de suas preocupações. Difícil de acreditar? Pode ser, mas não podemos deixar o pessimismo guiar nossas ações. A boa noticia é que empresas assim já existem! Infelizmente são poucas, mas já é um começo para a transformação que precisamos.

Observo que as áreas de segurança se mostram, neste momento, mais focadas nestas questões do que as áreas de recursos humanos que deveriam estar igualmente interessadas pelas mesmas. Mas vem então a questão: Por que mexer em um “problema” se não teremos a solução? Quero dizer com isso, que muitas vezes as empresas e seus gestores não sabem como lidar com o colaborador que já não possui mais condições de lidar com funções de risco, mesmo já tendo desempenhado este trabalho com êxito durante anos. Como justificar sua retirada da função? Onde coloca-lo? E como ficará sua motivação? E o que a equipe dirá disso? Bem, as perguntas são muitas. Mas a resposta pode ser uma só: nada pode ser mais importante do que a preservação de uma vida humana.

Esta reflexão continua, e outras questões surgem – Como manter uma pessoa em risco e deixa-la adoecer, ou mesmo, ignorar a possibilidade de um acidente grave ou fatal? No momento da contratação o candidato é avaliado e percebido como em plenas condições de desempenhar-se de forma produtiva e saudável, porém em poucos meses, em razão do nível de pressão e estresse psicológico de sua função, passa a ter comportamentos de agressividade, impulsividade, ansiedade e sintomas como falta de atenção, insônia ou aumento de peso. Podemos observar as atividades de um mineiro que passa muitas horas em espaço confinado, escuro, úmido e com riscos de explosões e desabamentos. Outro exemplo, o operador de produção de um frigorífico que passa toda sua jornada diária matando porcos e cortando sua cabeça com uma serra elétrica. Podemos ainda pensar no policial que em exercício de uma atividade voltada para a segurança pública põe sua vida em risco em enfrentar assaltantes, resgate de reféns ou ainda lidando com presidiários que ameaçam sua vida permanentemente. Enfim, podemos discorrer em inúmeros exemplos que facilitam nosso entendimento do que pode ser visto como “trabalhos de risco”.

Estatísticas recentes apontam para o Brasil em 4º lugar no ranking mundial de acidentes, dispendendo cerca de 20 bilhões de reais por ano com acidentes leves, graves e fatais no trabalho.

Alguns Dados Estatísticos da Previdência Social

• Áreas com maior número de mortes: Transporte, Armazenagem, Comunicação, Construção e Veículos;
• Segundo as últimas estatísticas oficiais, relativas ao ano de 2009, os acidentes com lesão totalizaram 723.452 casos no período de um ano, sendo que 2.496 trabalhadores morreram em acidentes do trabalho;
• Em 2009, ocorreu cerca de 1 morte a cada 3,5 horas, motivada pelo risco decorrente dos fatores ambientais do trabalho e ainda cerca de 83 acidentes e doenças do trabalho reconhecidos a cada 1 hora na jornada diária. Em 2009 observamos uma média de 43 trabalhadores/dia que não mais retornaram ao trabalho devido a invalidez ou morte;
• Apesar de não existirem estatísticas precisas no Brasil, pois o Ministério do Trabalho ainda não registra uma classificação de acidentes de trabalhos ocorridos em Espaços Confinados, é consenso, por parte de especialistas em Segurança do Trabalho, que o número de acidentes nestes ambientes é muito alto. Para alguns especialistas, não oficialmente, até 90% dos casos registram mortes. Eles acontecem por diversos motivos, sendo o principal a falta de informação sobre os riscos inerentes à atividade;
• Além de acidentes e óbitos, deve-se destacar as doenças ocupacionais: Hipertensão, Depressão, Síndrome do Pânico, Claustrofobia e outras fobias em geral, Problemas Cardiorespiratórios, Síndrome de Burnout.

Gráfico Tendência das Doenças Ocupacionais (1970-2008)

Sabe-se da dificuldade dos supervisores e coordenadores perceberam a formação de doenças ocupacionais por não terem o conhecimento técnico necessário. Mas será que o fato de estarem em área técnica os inabilidade para observar aspectos básicos e essenciais que podem detectar com antecedência problemas mais sérios? Não seria o caso de ensinar métodos de observação simples que pudesse prevenir acidentes, mortes e doenças? Se concordarmos com isso, já iniciamos um novo olhar sobre a Gestão do Risco, e as chances de diminuirmos os índices alarmantes de acidentes aumentam.

Referências Bibliográficas

NR 33 SEGURANÇA E SAÚDE NOS TRABALHOS EM ESPAÇOS CONFINADOS, Publicação Portaria GM n.º 202, 22 de dezembro de 2006, D.O.U. 27/12/06

Desafios da NR-33 – Segurança e Saúde em Espaços Confinados, acesse aqui

Espaço Confinado, acesse aqui

Espaço Confinado, Livreto do Trabalhador

Ministério da Previdência Social, acesse aqui

Previdência Social, acesse aqui

 

Lúcia Sebben

Desenvolvimento Humano e Organizacional Consultoria em RH

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