Lócus de Controle | Lúcia Simões Sebben

Lócus de Controle | Lúcia Simões Sebben

O lócus controle é um constructo vinculado à Teoria da Aprendizagem Social (Rotter, 1966), refere-se às expectativas de controle que os indivíduos mantêm sobre os acontecimentos da vida diária.

Indivíduos cuja orientação do lócus é interna acreditam poder exercer algum controle sobre esses acontecimentos; indivíduos cuja orientação é externa atribuem o controle sobre esses acontecimentos aos fatos externos – pessoas, entidades, destino, acaso ou sorte (Rotter, 1966, 1975, 1990).

Rotter menciona que o grau em que um indivíduo crê que sua vida encontra-se sob seu próprio controle ou sob o controle dos outros, constitui uma dimensão importante da variabilidade individual. A pessoa que acredita ser responsável por seu destino, possui lócus de controle interno, enquanto o indivíduo que crê que o bom e o ruim que lhe aconteça está determinado pelo acaso, pela sorte ou pelo poder dos demais, está orientado, fundamentalmente, por um lócus de controle externo.

Controle é a habilidade percebida para alterar significativamente os eventos. Isto significa dizer que não é necessário que as pessoas exerçam realmente controle sobre os eventos relevantes, mas que percebam este controle. A percepção de controle é o principal determinante da resposta do sujeito. (Burger, 1989).

Desta forma, o conceito de lócus de controle apresenta-se como teoria de aprendizagem social que entende o comportamento humano como adquirido por meio de experiências sociais e, através desta aprendizagem, os indivíduos adquirem a percepção sobre os acontecimentos para explicar os motivos e o porquê dos fatos que ocorrem em suas vidas.

O Lócus de Controle é abordado como uma forma para explicar diferenças na personalidade, quanto às crenças que as pessoas possuem sobre a fonte de reforço, se ele advém do seu próprio comportamento ou por forças externas.

É possível que um indivíduo apresente internalidade em um domínio particular como, por exemplo, no trabalho, mas atribua aos fatores externos à qualidade da sua saúde. Em virtude dessa especificidade é desejável que a avaliação seja feita, também em termos específicos, particularmente, quando o objetivo envolve o delineamento de programas de intervenção e modificação do comportamento.

Aplicação da teoria e impacto no comportamento e no resultado:

A Psicologia do consumidor tem investigado a orientação de controle que os sujeitos têm, mostrando que os consumidores com orientação interna confiam em seu próprio conhecimento para avaliar novos produtos. Os consumidores com orientação externa dependem do conselho de pessoas externas para que lhes guiem na escolha de algum produto (Shiffman & Kanuk, 1977).
Através de várias investigações, alguns autores têm encontrado que possuir um lócus de controle interno (L.C.I.) relaciona-se com alguns aspectos positivos da personalidade do indivíduo. As pessoas com um L.C.I. inclinam-se a solucionar problemas para reduzir o estresse ( Anderson, 1977); tratam de melhorar sua vida, são mais persistentes, têm elevado autoconceito e sensações de domínio do ambiente (Valderrama, Betancourt & Vázquez, 1998); valorizam mais êxito e rechaçam mais o fracasso, quando os atribuem a si mesmos (Dela Coleta, 1990); e têm maior necessidade de êxito (Andrade & Reyes, 1996).

Lefcourt (1991) e Rotter (1966) relatam que os indivíduos com L.C.I estão mais dependentes da informação relacionada com sua conduta futura; objetivam aumentar suas condições ambientais; atendem mais às habilidades e destrezas de êxitos, estão mais preocupados por seus fracassos ou erros; resistem mais às manipulações exteriores e têm aprendizagem mais intencional, alto grau de funcionamento acadêmico e atividades mais positivas de êxito. Ou seja, indivíduos com L.C.I. estão mais atentos diante dos aspectos de seu ambiente que lhes proporcionam informação relevante para sua conduta futura e fazem mais esforços para melhorar sua situação.

A internalidade está associada com maiores índices de adaptação, satisfação e envolvimento nas atividades do que a externalidade. Além disso, os indivíduos “internos” têm mais motivação para o êxito do que os externos (Sánchez,1990).

Um aspecto associado com o L.C.E que não se deve excluir é o processo de incapacidade aprendida, que se dá quando o sujeito identifica sua ausência de controle sobre certas situações cotidianas, atribui o controle a forças externas e apresenta depressão. Supõe-se que a maior falta de controle causa maior atribuição externa e, por conseguinte, maior depressão. Do mesmo modo, esta teoria postula que a expectativa de que uma conseqüência ou resposta seja independente do comportamento diminui a motivação para controlar a conseqüência. Isso interfere na aprendizagem da conduta que poderá controlar a conseqüência ou resposta. E se a conseqüência é traumática, produz temor devido à percepção de falta de controle das consequências, o que por sua vez, produz depressão. (Seligman, 1977).

Os sujeitos controlados externamente têm mais problemas para criar relações adequadas. Uma vez que não acreditam que a informação interpessoal tenha um papel importante nas relações com os outros, veem a sorte, a oportunidade, o destino, a fatalidade e o poder de outros como determinantes de seus resultados      (Nowicki & Digirolamo, 1989).

Robbins (1996) assinala que os indivíduos com inclinação de controle externo estão menos satisfeitos, faltam mais, se envolvem menos com seu trabalho, percebem-se com pouco controle sobre os resultados organizacionais importantes. Ademais, são mais condescendentes e dispostos a seguir instruções.

Assim, tudo relacionado com o L.C.E. têm efeitos sobre motivação, cognição e emoção.   Impacta na motivação pelo retardo no início de respostas voluntárias e se revela na passividade, na lentidão intelectual e na inadequação das relações sociais. Na cognição se caracteriza pela dificuldade de aprender que as respostas produzem resultados, manifestando-se na incapacidade de perceber contingências entre resposta e reforço. O impacto na emoção é devido à aprendizagem de que as consequências são independentes do responder e apresenta-se na diminuição efetiva da agressão e da competência.

Segundo Triandis (1994), evidência empírica sobre externalidade – internalidade foi obtida como uma cultura tipo individualista, onde a internalidade tem maior sentido e aceitação social. Em segundo lugar, os estudos mostram que a externalidade constitui um núcleo de crenças sobre a lógica dos fenômenos que integra e sintetiza as relações de poder e a organização da sociedade como grupos de referência e pertença.

Para Triandis (1994), é possível que , nas culturas coletivistas, a externalidade sirva para construir um modelo sólido de atitudes, para manter a união e a harmonia entre os grupos sociais. Em uma sociedade individualista, pelo contrário, isso é visto como um aspecto negativo, mesmo quando desconhecemos seu funcionamento em contextos coletivistas.

Tendo em vista estas características buscou-se identificar características de lócus de controle de acordo com sua função e seu papel profissional. Para Rotter (1966), essa tendência manifesta-se nas expectativas individuais de alcançar resultados desejados no futuro e está relacionada ao comportamento, na medida em que estes resultados são percebidos como relevantes para o sujeito e como prováveis de ocorrer.

Lúcia Sebben

Desenvolvimento Humano e Organizacional Consultoria em RH

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